Dia claro, azul, brisa de outono, esperança. Alegria de estar vivo e livre. Livre de ambições e de culpa.

 Ambições. Talvez a palavra ambição possa sintetizar tudo. Ambicionar, ser o que não é, ter o que não tem e estar onde não está. Toda ambição é uma forma de rejeição a uma determinada realidade. Não ambicionar nada não quer dizer não querer nada. A ambição é um estado de desejo mais forte do que o querer. O querer é livre, resignado. A ambição é pesada, rigorosa, exigente. Posso, por exemplo, querer estar em outro lugar, agora, que não este? Eu desejo, por uma série de razões, estar lá, mas vejo que não posso. Aceito estar aqui sem reclamar, sem lamuriar ou lamentar. Aceito de uma forma serena e sem exigência. Se eu ambicionasse eu ficaria aqui insatisfeito, revoltado e sem me entregar. Na ambição não há entrega.

Vejamos, agora, como a culpa está relacionada à ambição e não ao desejo de se aprimorar. Vamos supor que você se comporte de uma maneira que você não aprova e que os outros não aprovam. Você poderia tomar duas posturas diferentes diante deste fato. Primeiro, você poderia dizer: não gostei do que fiz, não aprovo o que fiz, gostaria de ser diferente, gostaria de ter agido de maneira diferente. O que será que me fez agir assim? Haveria, aí, uma espécie de compreensão, de benevolência para consigo mesmo. Poderia dizer que, até mesmo, um respeito. Num segundo caso, na ambição, você se revolta contra si mesmo, fica indignado, não aprova, se fecha e não tenta se compreender. Na ambição há sempre um fechamento para aquilo que é contrário ao querer, uma incompreensão e uma não-aceitação. Há um rigor tão forte que tudo que é contrário ao desejo é desprezado e rejeitado. A culpa é uma atitude desse tipo, meio infantil, tirana e cega.

Pois bem. Aprenda a ser doce, benevolente e tolerante consigo mesmo e aprenda a exercer o seu ser em toda sua intensidade. Ame-o.

Abraços.
Jeremias.
21.4.93.