
Vamos de novo falar mais um pouco sobre a expressão da essência e/ou da alma.
Você já reparou, não é mesmo? Talvez uns 80 a 90% de sua fala são falas ocas, sem sentido, que visam, na maioria das vezes, colocar seu “ego” em evidência, sofisticá-lo ou adorná-lo através de um esforço infantil para alimentar sua vaidade. Sua terrível vaidade.
Na vaidade tem muito de uma postura infantil daqueles do tipo: “veja papai, veja mamãe, olha que gracinha que sou”. É uma necessidade de tirar o foco da outra pessoa de si mesma e coloca-lo e você. É uma busca de admiração. A sua auto-imagem passa a ocupar um espaço exacerbado e central em você. É uma espécie de narcisismo infantil. A sua realização ou expressão da essência fica irrelevante. O que importa são as suas conquistas e seus adornos. Conquistas e adornos para encher o vazio da ausência ou da expressão da sua essência. Fica um ciclo repetitivo que não termina nunca. Me escondo atrás das minhas representações e, quanto mais me escondo, menos me expresso e, quanto menos me expresso, mais aumenta meu vazio e, consequentemente, a minha necessidade de adornos. Os adornos existem na medida de meu vazio. O meu vazio é consequência de meus adornos. E vai num sem fim. A busca de um contato direto, real consigo mesmo, sem distorções, pode quebrar esse ciclo.
Precisamos nos esforçar para nos perceber sincera e honestamente e compreender, clara e diretamente, o quão distorcidos e pobres são os nossos valores. Precisamos ser capazes de perceber em nós o que às vezes é difícil: toda nossa mesquinharia e baixeza advinda dessa disputa constante, na tentativa de vencer o nosso próximo, nos salientarmos e sermos reconhecidos ou admirados. Diga sempre não a essa busca compulsiva de reconhecimento e admiração.
Abraços, Jerê.
26.4.93.